5 perguntas sobre obesidade

Doenças crónicas
Prevenção e bem-estar
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Apontada como uma epidemia, a obesidade tem consequências graves na saúde. Neste ví­deo, Inês Sapinho, endocrinologista CUF, explica como controlar e tratar.

Portugal é um dos países da Europa com maior índice de obesidade - com cerca de 61% da população a sofrer de excesso de peso e de obesidade - e a tendência é crescente. As causas desta doença são variadas. Os casos de obesidade resultantes da genética são excecionais - e mesmo esses podem ser combatidos - e “a grande maioria dos casos está mesmo associada aos nossos comportamentos” e não só, podendo também estar implicados, por exemplo, fatores de origem hormonal e do microbioma. Inês Sapinho, endocrinologista, esclarece cinco questões sobre esta doença crónica: desde a sua definição às estratégias para combatê-la.


1. Qual a diferença entre excesso de peso e obesidade? Tanto a obesidade como o excesso de peso “são determinados pelo índice de massa corporal (IMC), que resulta da fórmula matemática da relação entre o peso sobre a altura ao quadrado”, afirma Inês Sapinho. Ao fazer esta conta, obtemos um número que nos permite perceber se o nosso peso é ou não adequado, ainda que seja um método com limitações. Segundo a endocrinologista, “se o resultado for maior ou igual a 25-30, tem excesso de peso; se maior ou igual que 30, considera-se obesidade. E quanto maior é o IMC, maior é o risco de complicações associadas à obesidade. No entanto, esta abordagem é um pouco redutora na avaliação, pois não nos dá a informação completa sobre a composição corporal, em percentagem de água, de massa gorda ou de massa magra”. Além disso, uma vez que “sabemos que gordura abdominal (a gordura visceral), é mais prejudicial, a avaliação do perímetro abdominal é fundamental”, esclarece Inês Sapinho, referindo aqueles que são os valores que idealmente não devem ser ultrapassados: “Na mulher, recomenda-se que seja inferior a 80 cm e no homem, inferior a 94 cm”.   2. Como posso saber se estou obeso? A obesidade é uma doença crónica - e Portugal foi o primeiro país da Europa a considerá-la como tal - que depende de vários fatores, como: Genéticos Ambientais Do desenvolvimento Comportamentais   Segundo a endocrinologista, o acompanhamento médico adequado é essencial: “Deverá recorrer a profissionais de saúde integrados numa equipa multidisciplinar, que vão orientá-lo em todo o processo de forma identificar e reverter o quadro, recorrendo a várias estratégias, nomeadamente, orientando para as modificações de estilo de vida ou com recurso a terapêutica médica e/ou cirúrgica”.   Sabia que... Qualquer perda ponderal (isto é, de peso) tem um impacto muito positivo na qualidade de vida e na melhoria das várias doenças associadas à obesidade.   3. A obesidade põe a minha vida em risco? “Sabe-se que quanto maior é o IMC, maior o risco de mortalidade”, alerta Inês Sapinho. Na verdade, a obesidade tem um impacto maior na mortalidade do que o tabaco enquanto causa prevenível de morte. “Em casos graves, pode reduzir a esperança média de vida até 10 anos”, afirma. A obesidade está associada a um conjunto vário de patologias, que, segundo a especialista, podemos agrupar em três grandes grupos: Metabólicas: neste grupo destaca-se pré-diabetes, diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares, apneia do sono, tromboembolismo. Sabemos também que a obesidade é responsável por uma percentagem elevada de infertilidade e de vários cancros. Mecânicas: a obesidade tem um impacto muito negativo na parte osteoarticular, nas dores, nas artroses. Mentais: a obesidade pode ter também impacto na autoestima, na depressão, na ansiedade.   Além disso, a obesidade pode também ter um “impacto avassalador no aumento das complicações por COVID-19”, afirma Inês Sapinho.   4. Quais as cirurgias mais eficazes para tratar a obesidade? “A cirurgia bariátrica é a única intervenção com eficácia comprovada na obesidade severa e com resultados significativos na perda de peso sustentada a longo prazo”, afirma Inês Sapinho. No fundo, este tipo de cirurgia “altera a parte anatómica de modo a que o estômago seja um saco mais pequeno e a pessoa ingira menos volumes e perca peso”. Segundo a especialista, existem atualmente duas técnicas cirúrgicas que são as mais utilizadas: Sleeve gástrico: é uma técnica sobretudo restritiva, que transforma o estômago numa “banana”, isto é, num saco mais pequeno. Bypass gástrico em Y de Roux: é uma técnica restritiva (que permite a diminuição da ingestão) e mal-absortiva (está associada a uma redução da área de absorção de nutrientes).   É, no entanto, importante salvaguardar que “estas cirurgias podem estar associadas a algumas complicações, nomeadamente, de deficiências de vitaminas e minerais que podem trazer consequências graves”, como: Anemia grave Queda de cabelo Cansaço Pele baça Alterações neurológicas Alterações sensitivas   É fundamental que o doente tenha conhecimento destas consequências e que assuma o compromisso de manter o acompanhamento pela equipa multidisciplinar a longo prazo e a adesão aos suplementos necessários”, explica a endocrinologista.   5. O que devo fazer para combater a obesidade? Para combater a obesidade, é importante “procurar uma equipa multidisciplinar que o ajude a compreender os fatores que contribuem para o seu ganho ponderal e avaliar e tratar as suas consequências. A obesidade é mais complexa do que apenas o resultado da falta de força de vontade ou disciplina. São necessárias várias estratégias para combatê-la de forma consistente ao longo da vida”, afirma Inês Sapinho, acrescentando que, “além da motivação para as mudanças comportamentais e de estilo de vida, atualmente, dispomos de um conjunto de terapêuticas médicas muito importantes e que têm contribuído para o sucesso do tratamento da obesidade”. Uma boa estratégia de motivação para o tratamento da obesidade passa por ponderar acerca das suas vantagens. A especialista em Endocrinologia defende que temos de olhar para aquilo que temos a ganhar ao melhorar e tratar a obesidade. Um desses ganhos é a melhoria de doenças ou problemas de saúde associados à obesidade, como diabetes, hipertensão, fertilidade - quanto maior a redução de peso, maior a probabilidade de a mulher conseguir engravidar -, alguns tipos de cancro, desde o do intestino ao do esófago, do estômago e da mama.
Publicado a 04/03/2022