O que é? A pré-eclampsia é uma complicação da gravidez, habitualmente na segunda metade da gestação, isto é, a partir das 20 semanas, ou pouco tempo após o parto - embora seja pouco comum, há situações em que a pré-eclampsia aparece pela primeira vez nas quatro semanas seguintes ao nascimento do bebé (neste caso, é denominada pré-eclampsia pós-parto). A pré-eclampsia consiste num quadro clínico em que se verifica níveis de pressão arterial elevados (hipertensão) associados à presença de proteínas na urina. A pré-eclampsia pode ter vários graus de gravidade e afetar vários órgãos do corpo, incluindo o fígado, os rins e o cérebro. Estima-se que entre 6 a 10% de todas as gravidezes sofram com esta patologia, que é considerada a principal causa de mortalidade pré-natal. Para prevenir complicações para a mãe e para o bebé, é importante que as grávidas a quem foi diagnosticada pré-eclampsia sejam vigiadas e tratadas.   Sintomas A maioria das mulheres com pré-eclampsia tem apenas sintomas leves, contudo, é muito importante que sejam vigiadas pelo médico assistente para prevenção de sintomas mais graves ou até o desenvolvimento de complicações. De um modo geral, quanto mais cedo se manifestar a pré-eclampsia, mais grave é a situação. Os primeiros sinais de pré-eclampsia são elevados níveis de pressão arterial (superiores a 140/90 mmHg) e em simultâneo a presença de proteínas na urina. Estes sinais podem ser identificados através da avaliação dos valores de pressão arterial e nas análises de urina habitualmente feitos durante as consultas com o médico assistente. Embora muitas mulheres com pré-eclampsia não apresentem sintomatologia, com o aumento da gravidade pode surgir: Dor de cabeça forte Problemas de visão, como visão desfocada, pontos escuros na visão, perda temporária de visão, sensibilidade à luz e flashes de luz Vómitos ou náuseas Dor imediatamente abaixo das costelas, habitualmente do lado direito Inchaço súbito do rosto, mãos, tornozelos ou pés Falta de ar Aumento repentino do peso Em casos de maior gravidade, a situação pode evoluir com baixos níveis de plaquetas (trombocitopenia) e valores aumentados de enzimas hepáticas, que indicam problemas a nível do fígado. Perante a identificação de sintomas de pré-eclampsia é muito importante que a grávida contacte imediatamente o seu médico assistente ou se dirija a um serviço de atendimento permanente. Alguns dos sintomas de pré-eclampsia podem estar presentes numa gravidez saudável, daí a importância da avaliação médica na descoberta da sua causa. A saúde do feto pode refletir a presença de pré-eclampsia, como um crescimento lento, resultado de um fornecimento insuficiente de sangue através da placenta. Este sinal é habitualmente detetado durante as consultas de acompanhamento da gravidez.   Causas A causa exata da pré-eclampsia não é ainda conhecida, contudo, pensa-se que poderá estar associada à presença de alterações na placenta (o órgão que liga o organismo da mãe ao do bebé). No início da gravidez, são formados novos vasos sanguíneos com o objetivo de fornecer oxigénio e nutrientes à placenta; nas mulheres com pré-eclampsia esses vasos sanguíneos parecem não se desenvolver ou funcionar como seria suposto. Deste modo, podem ocorrer perturbações na circulação sanguínea na placenta, o que pode resultar em problemas a nível de pressão arterial na grávida e causar sofrimento no bebé em desenvolvimento.   Fatores que podem aumentar o risco de pré-eclampsia: Ter diabetes tipo 1 ou tipo 2, pressão arterial elevada ou doença renal antes da gravidez Ter uma doença autoimune, como lúpus Numa gravidez anterior, ter tido pressão arterial elevada ou pré-eclampsia Recorrer a fertilização in vitro   Além disso, existem outros fatores que podem aumentar ligeiramente o risco: Ser a primeira gravidez A mulher ter idade igual ou superior a 40 anos Estar grávida de mais do que um bebé (gravidez gemelar ou múltipla) Histórico familiar de pré-eclampsia Terem passado mais de dez anos desde a última gravidez Obesidade durante a gravidez Complicações numa gravidez anterior   Diagnóstico Quanto mais cedo a pré-eclampsia for diagnosticada e vigiada, melhor será o prognóstico tanto para a mãe como para o bebé. Este problema pode ser facilmente diagnosticado nas consultas de seguimento da grávida através da medição regular dos níveis de pressão arterial e de análises à urina. Além disso, podem também ser feitas análises ao sangue. Caso a grávida tenha um historial clínico de hipertensão deve manter, de acordo com o aconselhado pelo seu médico assistente, a medicação proposta. A medição regular da tensão arterial é fundamental. Em caso de suspeita de pré-eclampsia, o médico assistente pode também fazer ecografias fetais e outros exames que permitem avaliar o estado de desenvolvimento do bebé.   Tratamento Perante este problema, é normalmente recomendado o parto do bebé assim que se considere possível, sendo a data definida consoante a gravidade da pré-eclampsia e do tempo de gestação atual. Habitualmente, será por volta das 37/38 semanas de gestação - contudo, em situações mais graves pode ser ainda mais precoce, considerando-se um parto prematuro - através de indução do parto ou de cesariana. Quando a pré-eclampsia se desenvolve muito cedo na gravidez, a mulher deve ser vigiada no sentido de tentar manter a gestação até que o bebé cresça e se desenvolva, alcançando a maturidade adequada ao nascimento. Ainda durante a gestação, o tratamento inclui a vigilância e a toma de medicamentos para controlar a pressão arterial (reduzindo, por exemplo, o risco de AVC) e gerir possíveis complicações até que seja possível realizar o parto. O médico pode ainda administrar medicação que ajude os pulmões do feto a desenvolverem-se antes do parto. Em casos mais graves de pré-eclampsia, a mulher pode precisar de ser hospitalizada para vigilância e testes regulares. Quando a pré-eclampsia não é tratada rapidamente, embora sejam raras, podem ocorrer várias complicações graves, como: Convulsões (eclampsia) Síndrome de HELLP AVC Morte fetal e/ou materna   Na maioria das situações, a pré-eclampsia pode ser controlada e melhora pouco tempo após o nascimento do bebé, com regresso à normalidade da pressão arterial materna e normal funcionamento renal. Após o parto, a mulher pode necessitar de permanecer no hospital para ser monitorizada, com a medição regular da pressão arterial e outros tratamentos que sejam necessários. Também o bebé pode precisar de hospitalização, por exemplo, se nascer prematuro. Além disso, após a alta, a mulher pode necessitar de continuar tratamento e de consultas de seguimento.   Prevenção É muito importante que a grávida mantenha as suas consultas de rotina no acompanhamento da gravidez, permitindo que o seu médico assistente vigie vários indicadores de saúde, entre os quais a pressão arterial. Como medida preventiva, poderá ser necessário prescrever medicação, nomeadamente, a toma diária de ácido acetilsalicílico (conhecido por aspirina). Ainda antes da gravidez é importante que a mulher mantenha uma boa saúde, sobretudo se tem histórico clínico pessoal de pré-eclampsia. Mulheres com fatores de risco prévios devem adotar algumas medidas para procurar reduzir a probabilidade de ter pré-eclampsia numa futura gravidez: Perder peso antes da gravidez, caso seja obesa ou tenha excesso de peso Controlar os níveis de pressão arterial e de glicemia, em caso da existência de hipertensão ou de diabetes previamente à conceção Manter a prática regular de exercício físico, sobretudo com movimentos aeróbios, como é o caso da marcha, corrida, natação ou dança Dormir o número adequado de horas Adotar uma alimentação equilibrada, com um aumento do consumo de frutas e legumes e uma diminuição do consumo de gorduras saturadas Reduzir o consumo de sódio, seja através da diminuição do consumo de sal ou de alimentos com alto teor de sal Reduzir o consumo de álcool e de cafeína Abandonar o consumo de tabaco
Fontes:
Cleveland Clinic, setembro de 2022 Mayo Clinic, setembro de 2022 NHS, setembro de 2022 SPHTA, 2022 Revista Portuguesa de Cardiologia, 2016