Bulimia
O que é?
A bulimia nervosa é um distúrbio alimentar potencialmente grave que se caracteriza pela ingestão às escondidas de grandes quantidades de comida, seguidas da indução do vómito. Noutros casos, procura-se compensar a ingestão excessiva de calorias com níveis demasiado intensivos de exercício ou recorrendo a diuréticos e laxantes. A apetência para expelir os alimentos pode tornar-se de tal modo intensa que é induzida mesmo após uma refeição ligeira.
Após os episódios de ingestão compulsiva, os pacientes tendem a sentir-se culpados e ansiosos por não terem sido capazes de controlar a sua impulsividade. A sensação de fome como é sentida de forma aversiva leva a que estes comportamentos compulsivos sejam vividos com extrema vergonha o que poderá gerar a sua ocultação.
A bulimia nervosa pode ser do tipo purgativo, quando o paciente induz regularmente o vómito ou usa laxantes, diuréticos ou enemas, ou do tipo não purgativo, quando o paciente utiliza outros comportamentos compensatórios tal como jejum ou exercício físico excessivo.
Estes pacientes são extremamente rígidos com a sua imagem corporal e com a gestão do seu peso. É bastante comum que estes pacientes tenham pensamentos recorrentes sobre comida e que possuam um ideal de magreza extremamente rígido.
Estima-se que a bulimia nervosa afete, anualmente, cerca de 13 em cada 100 mil pessoas. A sua incidência em mulheres dos 15 aos 24 anos – o grupo de maior risco – tem aumentado ao longo dos últimos 50 anos. Alguns estudos sugerem que nas populações em perigo (habitualmente estudantes do género feminino) a frequência seja de cerca de 10%. Se considerarmos as adolescentes ou mulheres jovens no universo geral, esse valor é menor e ronda 1% a 3%. A bulimia, à semelhança da anorexia nervosa, está relacionada com a perceção da imagem corporal.
Sintomas
A bulimia manifesta-se através de uma preocupação excessiva com o corpo e com o peso, um medo constante de o ganhar, sensação de incapacidade de controlar o comportamento alimentar, ingestão de comida até ocorrer desconforto ou dor, indução do vómito após comer ou prática de exercício em excesso, uso inadequado de laxantes, diuréticos e clisteres ou utilização de suplementos dietéticos para perder peso.
Quando a bulimia não é devidamente controlada podem surgir complicações, como a desidratação, insuficiência renal, problemas cardíacos, irregularidades menstruais, deterioração dos dentes e gengivas, problemas digestivos, ansiedade, depressão e abuso de álcool e/ ou drogas.
Causas
Desconhece-se a sua causa exata. Provavelmente, para esta condição contribuem múltiplos fatores biológicos, emocionais e sociais.
Os principais sinais de risco são:
- Género: feminino
- Idade: adolescência e adultos jovens
- Hereditariedade: maior risco quando existem familiares em primeiro grau com perturbações alimentares
- Aspetos psicológicos e emocionais: autoestima reduzida, perfecionismo, comportamento impulsivo, depressão, ansiedade ou presença de um distúrbio obsessivo-compulsivo
- Pressão Social: exercida pelas pessoas próximas e pela comunicação social, sobretudo nas mulheres jovens. As pessoas com profissões em contacto com o público apresentam maior risco de desenvolver perturbações como a bulimia
- Pressão resultante da prática desportiva: os treinadores e familiares, podem, sem o querer, contribuir para esse quadro ao encorajarem o atleta a perder peso e a restringir a sua alimentação em prol de um melhor desempenho desportivo
Diagnóstico
Um diagnóstico precoce é importante mas nem sempre possível. Muitos dos pacientes apresentam um peso normal, o que dificulta a identificação do problema. De um modo geral, para identificar a bulimia é necessário um exame médico, realização de análises ao sangue e urina, uma avaliação psicológica e outros testes que permitam excluir patologias de aparência semelhante.
Considera-se estar perante um quadro de bulimia quando existem, pelo menos duas vezes por semana durante um mínimo de três meses, os seguintes elementos:
- episódios repetidos de ingestão de alimentos em grande quantidade com a sensação de incapacidade para controlar esse impulso
- eliminação das calorias em excesso pelo vómito
- demasiado exercício físico
- jejum ou uso de diuréticos ou laxantes
- influência excessiva do peso e da forma do corpo na autoestima
- exclusão do diagnóstico de anorexia
Tratamento
De um modo geral, o tratamento requer uma combinação de medicamentos e de psicoterapia. Além destes elementos clínicos, o apoio familiar é um aspeto fundamental para ultrapassar esta perturbação.
Ao nível farmacológico, os medicamentos mais utilizados são os antidepressivos, em particular a fluoxetina.
Um adequado acompanhamento nutricional é importante para que se adquiram boas práticas alimentares, para que se alcance um peso saudável e para que se corrijam os desequilíbrios resultantes da bulimia. De forma rara, pode ser necessária hospitalização. Embora em muitos casos os sintomas melhorem, por vezes, a recuperação não é completa podendo ocorrer períodos de ingestão excessiva de alimentos e eliminação subsequente, desencadeados por acontecimentos do dia a dia ou pelo stress. Nesses pacientes, pode ser recomendável um acompanhamento médico ou psicológico periódico.
Através de uma intervenção psicológica na bulimia nervosa, procurar-se-á que o paciente seja capaz de desenvolver um plano alimentar regular e flexível que inclua alimentos até então evitados. Com o decorrer da intervenção pretende-se que o paciente consiga lidar com situações de risco para a ingestão alimentar compulsiva e vómito. Para que o paciente aprenda a reduzir a preocupação com o corpo e peso, procurar-se-á modificar os pensamentos, atitudes e emoções desadaptativas relacionadas com o comportamento alimentar. Após a melhoria do doente, a intervenção terá como objectivo central a prevenção de possíveis factores que poderão gerar uma recaída.
Prevenção
A prevenção passa pela manutenção de hábitos de vida saudáveis e pela identificação precoce de qualquer sinal desta condição. Nos mais jovens, a avaliação pediátrica regular permite uma identificação precoce de distúrbios alimentares. A criação de uma perceção adequada da imagem corporal por parte das crianças, através dos pais, representa também um papel muito importante na prevenção da bulimia.